A decomposição es rutural por osteoporose pode levar à incapacidade.A compreensão do mecanismo envolvido com o ganho e perda de massa óssea já permite tanto a prevenção como novas opções de tratamento.
por Clifford J. Osen
Maxine LaLiberté, uma nova paciente de 72 anos, chegou com dificuldade ao meu consultório. Relatou ter sido sempre muito ativa. Costumava cuidar dos nove netos e há anos vinha planejando, com seu marido, viajar pelo país em um trailer. Mas agora a dor insuportável entre as omoplatas limitava seus movimentos, fazendo com que se sentisse velha.Eu estava familiarizado com esses sintomas em pacientes idosos. Mesmo sem examiná-la, tinha quase certeza de que uma ou mais vértebras estavam fraturadas como resultado da osteoporose, distúrbio onde a perda de massa óssea pode ser tão severa que causa fraturas espontâneas ou decorrentes de pequenos traumas.A osteoporose aflige cerca de 10 milhões de norte-americanos, especialmente mulheres na pós-menopausa. Metade das mulheres nesse período apresentará problemas relacionados à osteoporose. Por sorte, o panorama dos portadores da doença nunca foi tão bom. Medicamentos capazes de restaurar a perda óssea e, portanto, reduzir substancialmente o risco de novas fraturas, já estão disponíveis.Há uma década, as opções terapêuticas para a osteoporose consistiam basicamente em suplementos de cálcio, analgésicos e, para as mulheres na pós-menopausa, terapia por reposição de estrogênio - tratamentos benéficos, mas imperfeitos. A terapia por reposição de estrogênio, por exemplo, aumenta o risco de ataque cardíaco, derrame, câncer da mama e coágulos sangüíneos. Hoje, em contraste, há medicamentos que reduzem a possibilidade de novas fraturas em até 70% no primeiro ano de tratamento.
Progressos similares têm sido alcançados também no diagnóstico. Até recentemente, uma fratura era, com freqüência, a única pista para o portador de osteoporose. Os médicos agora têm nas mãos um instrumento sofisticado dentro do consultório denominado absorciometria radiológica de energia dupla (DEXA, na sigla em inglês) para mensurar os pontos de densidade mineral dos ossos especialmente suscetíveis a fraturas. O DEXA permite o diagnóstico prematuro da osteoporose - a tempo de iniciar um tratamento capaz de manter os ossos intactos e prevenir fraturas. Além disso, o DEXA pode ser uma ferramenta útil de visualização para avaliar a possibilidade de fraturas futuras em qualquer lugar (ver box).Pesquisas recentes também permitiram uma nova apreciação sobre o papel da hereditariedade na osteoporose. O distúrbio foi durante muito tempo considerado uma condição "traumática", onde décadas de desgaste do esqueleto culminariam em fraturas e dor. Investigações genéticas revelaram, agora, que os genes influenciam a densidade óssea e, conseqüentemente, o risco de fraturas. Esses estudos indicam que diferenças genéticas respondem por até 70% da variabilidade humana em massa óssea, apesar da influência, também, de fatores como hábitos alimentares e exercícios. Aparentemente, vários diferentes genes influenciam a propensão. Ao serem descobertas as variantes genéticas especificamente relacionadas à osteoporose, obteríamos as bases para testes de detecção da suscetibilidade, que poderiam também conduzir a drogas capazes de contra-atacar seus efeitos.
Revertendo o Roubo
A necessidade de melhores opções preventivas e terapêuticas é urgente. A osteoporose, que literalmente significa "ossos porosos", é a causa subjacente de virtualmente todas as fraturas em pessoas acima de 65 anos. As vértebras, a bacia e os punhos são particularmente suscetíveis a fraturas osteoporóticas. Esses ossos quebrados podem causar dor crônica e incapacitante e, no caso da bacia, geralmente antecipam uma série de eventos que podem levar à morte: dos 275 mil norte-americanos idosos que sofrem uma fratura por ano, 20% morrem em 12 meses, devido a coágulos sanguíneos, infecções ou subnutrição. Além dos 10 milhões com osteoporose, somam-se 18 milhões com baixa massa óssea (osteopenia), uma condição não qualificada como osteoporose, mas que eleva o risco para o eventual desenvolvimento do distúrbio.
Testes clínicos aleatórios e em grande escala têm demonstrado que, sem dúvida, os bisfosfonatos mais potentes - alendronato (Fosamax) e risedronato (Actonel) não só previnem uma perda óssea maior, como também podem, na maioria dos pacientes, aumentar a densidade óssea, de 5 a 10% em três anos. Aparentemente modesto, o ganho é suficiente para reduzir em até 50% o risco de fraturas na coluna, bacia e punhos, em um ano de tratamento. Os bisfofonatos são ingeridos somente uma vez por semana e aparentam ser excepcionalmente seguros: exceto por acidez gástrica, os efeitos colaterais são raros. Motivados, em parte, pela busca por drogas mais efetivas contra a osteoporose, cientistas estão estudando como a remodelação óssea é regulada, de forma que aqueles controles possam ser manipulados. Nos últimos dois anos, obtiveram progressos ao provocar as características que regulam a osteoclastogênese - o nascimento e a maturação de osteoclastos, as células que dissolvem o osso. Tanto osteoblastos como osteoclastos se originam pela diferenciação de células precursoras na medula óssea (que também abriga as células produtoras de sangue do corpo). Células conhecidas como estromais maturam como osteoblastos, e macrófagos (um tipo de célula da série branca sanguínea) se diferenciam como osteoclastos. Biólogos observaram que as células estromais e seus descendentes, os osteoblastos, governam a produção dos osteoclastos que degradam o osso pela secreção de três moléculas sinalizadoras: duas promovem o desenvolvimento dos osteoclastos e uma suprime.Bem no início, os osteoblastos secretam uma molécula sinalizadora denominada fator de estimulação de colônias de macrófagos, que se une a um receptor nos macrófagos, induzindo-os a se multiplicarem. Uma segunda substância, RANKL, secretada pelos osteoblastos, se liga a um outro receptor nos macrófagos, induzindo as células a se diferenciarem em osteoclastos. O terceiro produto do osteoblasto, a osteoprotegerina, pode bloquear a formação do osteoclasto por agir como um receptor chamariz - agregando-se ao RANKL e evitando que ele entre em contacto com seu próprio receptor.Teoricamente, qualquer coisa que possa interferir na formação do osteoclasto - e, portanto, com a reabsorção óssea, deveria aumentar a densidade óssea. Está em andamento uma pesquisa envolvendo essa intervenção com base na nova compreensão molecular - a liberação de osteoprotegerina. Injeções da molécula em testes com humanos conseguiram reduzir a velocidade da reabsorção óssea em, pelo menos, 60%. Biólogos também identificaram cerca de uma dúzia de outros sinalizadores químicos envolvidos na coordenação da formação e reabsorção óssea - entre eles o estrogênio, hormônios paratireoidianos e o fator-1 de crescimento semelhante à insulina. O estrogênio circulante exerce distintas influências no corpo pela ação conjunta com seus receptores em vários tecidos do corpo, incluindo útero, mamas, cólon, músculos e ossos. Os médicos sabem, há 50 anos, que o estrogênio ajuda a preservar a densidade óssea, porém os mecanismos moleculares são um mistério. Está claro, agora, que uma das funções do estrogênio é interferir na criação dos osteoclastos.
Mais especificamente, o estrogênio se liga aos osteoblastos no osso, induzindo-os a aumentar a produção de osteoprotegerina e suprimir a sua produção de RANKL - uma combinação de sinais que impede a formação de osteoclastos, mantendo o controle sobre a perda óssea. O declínio de estrogênio na menopausa contribui para a perda óssea, principalmente pela remoção de um freio importante na formação e atividade do osteoclasto. Além disso, o estrogênio parece prolongar a vida dos osteoblastos enquanto, simultaneamente, promove o suicídio dos osteoclastos. O declínio de estrogênio na menopausa, então, atinge as mulheres como uma praga tripla: osteoblastos de vida curta precisam disputar com mais osteoclastos, que possuem um tempo de vida mais longo.
Clifford J. Osen é diretor executivo do aine Center for Osteoporosis Research and Education em Bangor,Maine,e é cientista adjunto do Jackson Laboratory em Bar Harbor, Maine.Obteve seu M.D.no State University of New York em Syracuse,Upstate Medical Center em 1975 e,desde 1993,é professor de clínica no Boston University edical Center. Atualmente preside a American Society for Bone and ineral Research e escreveu vários livros sobre osteoporose e saúde óssea.
Fonte:Scientific American Brasil
Postado por:Mariana Seabra
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